Friday, June 8, 2007

Lisboa, menina e moçoila

As luzes alaranjadas dos candeeiros de mercúrio, vistas assim, do alto do céu negro, de uma noite fria de Outono, criavam labirintos, rectas, milhares de focos luminosos que apontavam para variadíssimos acontecimentos. A cada ponto de luz correspondiam situações escondidas pelas sombras de pequenas ruas, dos recantos da cidade virada para o Tejo. Começava a chover e algumas das pessoas perdidas no enleio de luzes, regressavam a seus lares. Como o casal engraçado que se beijava, abraçava e que depois de alguns pingos davam o dia juntos por terminado. Ansiosa, precipitada e sem vontade nenhuma de o largar fugia da chuva, lançando olhares por detrás dos ombros para ele, que ficara na paragem do eléctrico. Ao lado dele, um velho consumido por uma vida de trabalho árduo, vinho tinto e muitos maços de tabaco, esperava também, mas não pelo eléctrico ou autocarro, nem que a chuva parasse. Parecia querer que aquele fosse o seu último cigarro. Fumava-o deliciosamente, a cada bafo, de cada vez que inalava o fumo, sentia um prazer apenas demonstrado pela sua expressão de regozijo. No fundo, esperava o fim dos seus dias. Em frente à paragem, num prédio de azulejos e varandas e vasos, conseguia-se ver numa das janelas acesas, a cara de satisfação de um miúdo ao ver a chuva cair, ao de leve no chão.

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